sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Tão perigosa quanto a depressão pós-parto


Tão perigosa quanto a depressão pós-parto

Pesquisas mostram o quanto a ansiedade pode ser prejudicial às novas mães. Ela é mais comum do que o estado depressivo

Mônica Tarantino
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Depois do nascimento do bebê, os médicos e a equipe de saúde costumam ficar atentos para observar se a mulher apresenta sinais de depressão. No entanto, um estudo recente feito pelo pediatra Ian Paul, professor de pediatria e saúde pública da Faculdade de Medicina da Universidade Penn State, nos Estados Unidos, mostra que é urgente monitorar também as variações de humor relacionadas à ansiedade. “Descobrimos que 17% das 1.100 parturientes que acompanhamos por seis meses, desde a internação até o parto, tinham sinais de ansiedade em graus variados”, disse Paul à ISTOÉ. A descoberta surpreendeu porque equivale a dizer que cerca de uma em seis mulheres pode se ver enredada pela ansiedade nessa fase. “Constatamos que sintomas desse distúrbio são mais comuns que os de depressão, encontrados em 6% das mulheres dessa pesquisa”, analisa Paul. O estudo foi publicado pela “Pediatrics”, da Academia Americana de Pediatria.  

O trabalho de Paul mostrou ainda que o desconforto emocional causado pela ansiedade pode interferir na liberação de ocitocina, um hormônio que age na contração dos ductos mamários e permite que o leite seja expulso do peito. “Uma das consequências dessa mudança pode ser o aumento da dificuldade de liberar leite, obrigando o bebê a sugar com mais força”, exemplifica a enfermeira obstétrica Isília Silva, da Faculdade de Enfermagem da Universidade de São Paulo (Usp). Ela orientou uma tese de mestrado sobre o impacto da ansiedade na amamentação. Se a mulher ficar ainda mais ansiosa ao perceber que o bebê precisa se esforçar muito para mamar, cria-se um ciclo que pode desencadear outras respostas do organismo. “Há chance de a contenção de leite no peito levar o corpo a entender que deve reduzir a produção”, diz a enfermeira Isília.
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ATENÇÃO 
Bernik, da USP, diz que a ansiedade da
gestante deve ser avaliada desde o início
 
A professora de ginecologia e obstetrícia Dana Gossett, da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, decidiu medir o grau de angústia de 461 mulheres no pós-parto. “Onze por cento delas tinham ansiedade muito elevada e algumas manifestavam comportamentos obsessivos-compulsivos”, diz a especialista. Um dos sinais encontrados com maior frequência por Dana no grupo estudado era a preocupação em checar repetidas vezes se a criança não tinha parado de respirar ou se caíra do berço. Novas entrevistas feitas seis meses depois mostraram sintomas mais amenos em metade do grupo. As outras, porém, continuavam lidando com o sentimento nos seus mais diversos matizes. A pesquisa, publicada pelo “Journal of Reproductive Medicine”, foi motivada pela experiência da própria médica, que sofreu com pensamentos indesejáveis e repetitivos após o parto do primeiro filho. “Eu queria verificar se o mesmo ocorria a outras mulheres”, disse Dana.

O psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da Usp, afirma que é essencial monitorar a evolução da ansiedade das jovens mães. “O pós-parto é um momento em que pode haver recaídas de comportamentos ansiosos que podem estar presentes há mais tempo”, comenta o especialista.
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Também existe a possibilidade de as aflições e angústias fora do normal sentidas pela primeira vez após a chegada do bebê não desaparecerem por si só, sem tratamento. “Por isso, os profissionais da saúde devem aprender a diferenciar a ansiedade normal daquela patológica, que leva a prejuízos funcionais ou a sofrimento excessivo”, orienta o psiquiatra da USP. As formas mais comuns da ansiedade que escapa ao controle são os chamados transtornos do pânico, de ansiedade generalizada ou o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
Antes de quatro semanas, afirma Bernik, a ansiedade pode ser considerada uma manifestação normal em um período de grandes ajustes. “Nessa fase, há chance de ser aliviada com orientação e psicoterapia de apoio. O suporte de uma enfermeira ou de uma mãe mais experiente também auxilia”, diz ele. O pediatra americano Paul acha que os médicos precisam ajudar. “Gastar um pouco mais de tempo com as mães pode reduzir sua ansiedade”, aconselha.

Na Faculdade de Enfermagem da USP, são atendidas mulheres cuja ansiedade atrapalha a amamentação. “Às vezes, uma boa conversa com uma assistente social ou enfermeira treinada é suficiente para a mulher se tranquilizar e retomar a amamentação”, diz Isília. Se os sintomas persistem por mais de quatro a seis semanas, a conduta recomendada é buscar um psicólogo ou psiquiatra para fazer o diagnóstico e avaliar as opções de tratamento.
Revista Isto É
COMPORTAMENTO
|  N° Edição:  2290 |  04.Out.13 - 20:55 |

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Uma filhote entre nós


Trabalhar com mães e bebês é uma grande alegria. Fico muito feliz e com a energia renovada quando recebo mensagens de algumas pessoas que me dão notícias sobre as novidades do bebê e seus progressos na amamentação. Lembro quando tive meus bebês e vibro quando sei dessa experiência com uma nova mãe. O nascimento de um bebê faz nascer uma mãe, um pai, avós, enfim, uma  família, que pode ser nova ou estar aumentando (sim, com um irmãozinho ou irmãzinha). No entanto, em alguns momentos, a alegria dá espaço para outros sentimentos, nem sempre bem vistos por quem sente e às vezes mal compreendidos por quem está ao redor.

Só não sabia que esses sentimentos podiam ser vividos em relação a um cachorrinho, ou talvez eu tenha esquecido dessa emoção que me remete à minha própria infância.

Soube disso graças a nossa nova filhote, Lisa. Uma pequena cachorrinha branca, muito manhosa e cheia de amor para dar.

Lisa chegou sem saber direito aonde fazer suas necessidades, ganhou um lugar especial e depositamos a esperança que ela aprendesse logo que ali era seu banheiro. Também ganhou o lugar para dormir e se alimentar. Até aí tudo bem. Fomos percebendo que não sabíamos como resolver algumas questões. Como orientadora de mães e pais, não perdi tempo e fui aprender com uma família que tem cachorros.

Soube que um filhote dorme melhor perto de alguém e que vai chorar de madrugada nos primeiros dias, que precisa paciência para aprender sobre hábitos de banheiro, que não fica sozinho em casa até se acostumar que as pessoas saem e voltam. Mas, de quem estamos falando? A vizinha falava e eu pensava que estava escutando sobre um bebê. Não pretendo humanizar a cachorrinha, nem penso em tratá-la como uma criança, mas não pude deixar de achar engraçado as semelhanças.

O que vi nos primeiros dias dessa filhotinha me fez  pensar um bocado sobre nascimentos. Aqui em casa os meninos ficaram como os principais cuidadores da Lisa. Estavam animados para serem reconhecidos por ela e fizeram de tudo para mantê-la bem feliz. Deram água, alimentaram, cuidaram dos “acidentes” fora do “banheiro” e ainda brincavam com ela. E vieram as primeiras alegrias:

“Mãe, boa notícia: ela comeu"! Quem não fica feliz quando seu filhote, ops, seu filho come direitinho?

À noite o trabalho era maior. A cachorrinha ainda estava se adaptando à nova casa e acordava os meninos de madrugada aos choramingos ou querendo brincar.  A paciência do mais velho, que era quem conseguia acordar, para acalmar a cachorrinha e depois voltar a dormir me lembrava um pai cansado, mas consciente de sua responsabilidade. De manhã vinha o relato da noite. Eu só podia comentar “ Filhote dá trabalho, né filho"?

Outro dia tentaram, em vão, escovar os dentes dela. Nada, não deixou. E veio a queixa :
“ Mãe, ela não deixou escovar os dentes". Só pude rir, lembrando como às vezes é difícil convencer as crianças dessa rotina tão importante.

Aos poucos a adaptação dela foi sendo feita, já podia ficar sozinha em casa, já acertava na maioria das vezes o local do banheiro e outras coisas começaram a acontecer. Os meninos nem sempre estavam com vontade de brincar com Lisa, e ela queria e requisitava. Outras vezes estavam sem vontade de cuidar dela e achavam muito chato tudo isso. Nessas horas não entrava recriminação do tipo “vocês quiseram, agora cuidem”, que seria o natural de pensar, e acho mesmo que em outra época teria dito isso. Mas agora, vendo tantos nascimentos de famílias, falei diferente. Expliquei que de fato há dias “chatos”, que às vezes a cachorrinha  pode despertar irritação, mas que vai passar e daqui a pouco estarão felizes de novo com ela. Simples assim. Quando ela morde, e morde mesmo, digo para serem firmes, mas sem bater (imaginem que ela tem menos de 2 kg, que estrago seria). Ficam brabos com ela, mas logo vão olhar se está tudo bem. Conhecem isso? E nesses momentos só nos resta oferecer ajuda, aliviar os cuidados, entender que em alguns momentos precisam de uma folga.

Fui escrevendo sobre a Lisa e cada vez mais penso nas semelhanças com uma adaptação de uma família ao bebê. Desculpem pela comparação, longe de imaginar que um filho é como um filhote de cachorrinho, mas o que me fez falar dessa história foi ver nascer em dois meninos o sentido de cuidado, responsabilidade, amor, irritação, preocupação e às vezes de “saco cheio”, como pode acontecer com um adulto quando tem seu bebê (nas suas devidas proporções, ok?). Tem sido uma experiência muito bacana de participar, de vê-los crescendo com essa vinda de um filhote. Não sei se  eles se lembrarão disso tudo quando forem pais de verdade e não tenho como garantir que isso os ajudará a serem melhores pais. Mas ao menos já têm uma ideia das alegrias, do lado “B” - dos deveres - e saber que todas as situações têm vários ângulos e sentimentos. E também que de todas as dificuldades e responsabilidades, essa é a que traz mais alegrias.