terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Enxoval emocional


Enxoval emocional

Uma viagem para o exterior pode até ser feita sem muita preparação. De alguma forma, a pessoa se vira diante do desconhecido. Mas também gasta muito mais energia. Se estiver preparada para algumas questões práticas, a situação melhora. E se, além disso, tiver conhecimento da língua e da cultura local, aí já muda tudo.

A chegada de um filho é como entrar em outro país. Ou melhor, como diz a psicoterapeuta Laura Gutman, “é mudar para outro planeta”! Calma, ao mesmo tempo, também não é coisa de outro planeta.

O objetivo aqui é ampliar um pouco a visão de preparação para a chegada dos bebês. É mostrar a importância de irmos além do enxoval material e da preparação física das mães, para construirmos um verdadeiro “enxoval emocional”, que fortaleça o casal para as mudanças profundas em suas vidas. Antes de mais nada, é essencial dizer que incluir a questão emocional nos preparativos do casal não significa criar receitas prontas, que devem ser seguidas à risca e que servem para todos, da mesma forma. A principal função é deixar mães e pais seguros de que vão dar conta da nova realidade e de que podem desenvolver, cada um ao seu modo, suas capacidades de cuidar da criança.

Podemos começar, por exemplo, expondo de forma transparente as possibilidades e limites de cada um dos parceiros. O que vai mexer mais com o casal? O que vai ser mais difícil para cada um? Quais os pactos que podem ser feitos para minimizar o estresse mútuo? Enfim, é colocar as cartas na mesa, mas para fazer algo diferente das disputas: combinar o jogo, para que todos ganhem.

E porque cada caso é um caso, a preparação deve estar de acordo com a realidade de cada um. Tudo enriquecido com as experiências da família, dos amigos, da literatura, mas principalmente com as vivências do casal, que sempre deve dar a última palavra.

Os profissionais orientam e ajudam a organizar questionamentos, dúvidas e pactos, mas a construção do novo momento é essencialmente do casal. E se fosse para definir em poucas palavras a principal conquista nessa preparação, diria que é a capacidade de diálogo entre os dois.

A criança da barriga é outra quando nasce. Chora, exige, coloca demandas físicas com evidentes reflexos no emocional do casal. É preciso entender que a criança precisa ter seu tempo para se adaptar ao mundo externo. E igualmente os pais, para conhecerem aos poucos esta criança. Nesse momento, mais do que um turbilhão de palpites, o que mais um casal precisa é ajuda prática, carinho e apoio para que descubram eles mesmos os melhores caminhos para criarem seus filhos. Se conseguirem passar por essa experiência previamente fortalecidos, a conexão entre mães e pais e deles com os bebês será maior e terá mais qualidade.

O melhor de tudo é que seja qual for a forma de preparação, nada vai substituir o encanto da novidade. De descobrir que nossa função é ajudar as pessoas a terem mais recursos para as novas emoções. Que preparar-se é estar aberta ao novo, sem apego ao perfeccionismo, para aprender com os erros – que vão acontecer e não devem trazer qualquer culpa. E, diante dessa riqueza toda, transformar-se.

Matéria que saiu no Diário Catarinense no Caderno Vida e Saúde.


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