sexta-feira, 30 de abril de 2010

Homem tem jeito para cuidar de criança?

Olá,

Esta é a primeira vez que vou postar um artigo específico sobre os homens. Garanto que vai ser muito interessante para as mães e os pais.
Leiam, depois me contem se gostaram.

Beijos e bom domingo!!!


Por: Maria Luiza de Carvalho*

Estes são chavões muito ouvidos entre nós. São produtos da divisão tradicional do trabalho entre homens e mulheres, em que aos homens cabem as funções públicas e às mulheres a vida doméstica. Cuidar é coisa de mulher, haja vista a grande quantidade de mulheres em profissões ditas femininas: enfermagem, educação, psicologia, etc.

Mas a história não é bem assim pois a observação de pais dando o primeiro banho numa maternidade pública, tem mostrado que os homens inicialmente desajeitados, logo se tornam afetuosos e competentes ao cuidar do bebê. No entanto, no convívio doméstico, muitas mulheres relutam em permitir que o homem se aproxime do neném ou passe a administrar com ela a casa. Tarefas do poder feminino: ser a rainha-do-lar. E, poder, vocês sabem, a gente não gosta de perder, não é?

Por outro lado, há muitos homens que também têm dificuldades em se aproximar dos cuidados com os filhos, pois desta forma ficaria descaracterizado o seu papel de macho, aquele que banca economicamente a família e é servido pela mulher em casa. Mas os homens já não são mais os únicos provedores e estão tendo que se adaptar à nova independência econômica feminina. Entre essas adaptações surge a divisão das tarefas domésticas. Segundo dados do IBGE, 51 % dos homens participam dos trabalhos da casa.

Muitos homens se identificam como desajeitados para cuidar de criança. Por que será que isto ocorre? Longe de ser uma capacidade dada pela biologia, cuidar é uma tarefa aprendida pelas meninas desde cedo, sendo mamães de suas bonecas. Quando um menino se interessa por brincar com bonecas, a família fica assustada, achando que este pode ser um sinal de homossexualidade. Só que estamos presenciando novas possibilidades de participação afetiva e efetiva do pai na vida das crianças, sem que estes homens, obviamente, mudem sua opção sexual.

A tarefa de cuidar, entre nós humanos, se aprende socialmente. Isto fica claro quando observamos as dificuldades da mulher urbana em amamentar e cuidar do neném, muitas vezes, por nunca ter participado da criação de outros bebês da família. É óbvio que a biologia, através da gravidez, facilita à mulher a formação de vínculos precoces com o bebê, mas não garante o exercício de uma maternidade satisfatória. Muitas mulheres não se sentem confortáveis nesta tarefa, sentindo-se culpadas por não serem aquela boa mãe que se exigem. O reforço social para o desenvolvimento das capacidades femininas de cuidar é muito grande. A expressão mãe desnaturada reflete bem a exigência sobre a mulher de dedicar-se aos filhos, para evitar ser qualificada como tal. No entanto, o pai que não cria os filhos, ou quando separado se afasta deles não recebe nenhum julgamento de seu grupo social.

As instituições sociais em sua maioria afastam o homem da educação e cuidados com a criança. É a escola que embora faça a reunião de pais, não questiona a presença apenas de mulheres na maioria destes encontros, embora muitas delas trabalhem fora. Nas maternidades, a entrada do pai na sala de parto nas maternidades públicas, precisou ser normatizada (cidade do Rio de Janeiro e Estado de São Paulo) para que o homem, como qualquer outro acompanhante à escolha da mulher, possa presenciar o nascimento de seu filho. Os homens não são convidados a participar do pré-natal durante a gestação. Nos postos de saúde, não há fotos de homens com bebês, expressando a expectativa de que aquele seja um espaço exclusivamente feminino. Os homens são mantidos à distância pela atenção prestada à gestação e ao nascimento da criança. As relações de trabalho também dificultam a participação do pai, pois não se aceita que homem falte ao trabalho porque o filho ficou doente, havendo uma expectativa de que este seja papel de mãe.

Enquanto a mulher desde cedo é preparada para a maternidade, com as brincadeiras de bonecas, cuidar de filhos não costuma fazer parte do projeto de vida dos homens. Suas atenções em geral estão voltadas para a competitividade do mundo profissional. Na vida sexual, os homens, tem mais dificuldade no uso da camisinha, como se a relação sexual sem cuidados anticonceptivos, não implicasse em paternidade futura. Cabe à mulher tomar pílula e controlar o período fértil. Se engravidar, o erro foi dela.

Todos estes fatores contribuem para a descrença de muitos homens na sua capacidade de serem amorosos e competentes no cuidado com os bebês. Além disso, tornar-se pai na maioria das vezes é vivido como um grande susto. Parece que aí é que o homem entra na vida adulta. Embora pouco se fale das experiências masculinas durante a gestação, pode-se imaginar a quantidade de emoções que um homem vive ao longo desse período. A responsabilidade econômica, o compromisso afetivo com a família, o projeto de vida, o medo da nova experiência, a transformação na relação com a mulher gestante e futuramente mãe, a divisão do amor com o filho, etc. são temas que costumam surgir nos corações masculinos e que não costumam receber a devida atenção daqueles que prestam assistência à gestação e ao nascimento.

A capacidade masculina de cuidar e de formar vínculos vem sendo observada através de estudos com homens americanos que tiveram contato com seu bebê despido, trocando fraldas e olhando "nos olhos" nas primeiras três horas de vida. Entre estes pais, o cuidado e a interação afetuosa com seus bebês é aumentada nos primeiros três meses de vida, além de propiciar um sentimento de maior proximidade com suas esposas. Não podemos esquecer que o homem que não participa da vida do bebê sente-se em geral excluído pois a mulher gasta muitas horas no cuidado com a criança, sem sobrar tempo para o marido. Outros estudos, mostram que pais adolescentes, apesar de todas dificuldades da precocidade da paternidade, quando acompanham as consultas do pré-natal e participam do trabalho de parto e do nascimento, têm maior probabilidade de acompanhar as consultas mensais dos seus filhos (as) até por volta de dois anos de vida.

Pais adolescentes, apesar de todas as dificuldades da precocidade da paternidade, quando acompanham as consultas do pré-natal e participam do trabalho de parto e do nascimento, têm maior probabilidade de acompanhar as consultas mensais dos seus filhos(as) até por volta de dois anos de vida, segundo pesquisas.

Há momentos na nossa vida que são especiais na formação de vínculos. Chamam-se períodos sensitivos¹ pela facilidade maior que a pessoa tem de ser influenciada por um evento, do que noutros momentos. O período do nascimento do filho é um deles, facilitando para o pai e a mãe vincular-se ao bebê, em virtude de toda a transformação emocional que eles estão vivendo para lidar com o novo integrante da família. Bebê, mamãe e papai estão passando por profundas mudanças, reorganizando suas vidas e esta é uma oportunidade de maior sensibilidade de todos. Não há porque os homens não aproveitarem este momento na construção de vínculos afetivos duradouros.




*Maria Luiza de Carvalho

Psicoterapeuta corporal com formação em Biossíntese, com experiência no trabalho com crianças, adolescentes, adultos, terceira idade, psicóticos e suas famílias.
Psicóloga da Maternidade-Escola da UFRJ há 10 anos, trabalhou com Psiquiatria nos 20 anos anteriores.
Especialista em Terapia de Adolescentes (Inst. Psiquiatria UFRJ), Psiquiatria Social (Colônia Juliano Moreira-FIOCRUZ), e Psicologia na Assistência Psiquiátrica (Inst. Psiquiatria UFRJ).
Mestre e Doutoranda em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social (EICOS, Inst. Psicologia, UFRJ) e pesquisadora sobre paternidade, gênero, saúde sexual e reprodutiva.
Tel.: 21 2234 3695


Autor: Maria Luiza de Carvalho
Data: 17/8/2006
Publicado originalmente no site www.aleitamento.com

terça-feira, 20 de abril de 2010

Alimentação durante trabalho de parto está liberada

Vejam que interessante o artigo que saiu na Folha On Line. Revê mais um mito sobre o trabalho de parto. Sempre se ouviu que a parturiente não poderia se alimentar nesse processo porque se tivesse que fazer uma cesária poderia passar mal. Enfim foi revisto, concluiu-se que se passa mais mal ficar sem alimentação.

Boa leitura e lembrem-se de levar alimentos leves na bolsa da maternidade.

Beijos grandes!!!

Crença de que mulher deve ficar em jejum para dar à luz não resiste à revisão científica de vários estudos; comida deve ser leve

Rafael Hupsel/Folha Imagem

A fisioterapeuta Luciana Morando, que almoçou e lanchou no dia do nascimento de Guilherme

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em nome do conforto, vale até comer enquanto o bebê não chega. Uma revisão recente de cinco estudos científicos concluiu não haver provas de que a alimentação durante o parto normal faz mal à mulher.
O trabalho avaliou dados de 3.130 mulheres e foi publicado pela Cochrane, rede internacional de revisão de pesquisas.
A crença de que a mulher deve ficar em jejum vem dos anos 1940, quando foi levantado o alerta de que, durante uma anestesia geral, haveria maior risco de vômito e de o alimento do estômago ser aspirado pelos pulmões, causando problemas à paciente.
Mas a anestesia aplicada na gestante só atinge o abdômen e os membros inferiores, tornando mínimo o risco de reaspiração dos alimentos. "Muitos médicos têm receio de ser necessária uma anestesia geral, mas isso é raro e atípico", diz o ginecologista Alberto d'Auria, diretor do grupo Santa Joana.
Na verdade, a alimentação pode ajudar a mulher: como ela pode esperar até 16 horas para o bebê nascer, precisa de uma fonte de energia. "Se sente fome, é sinal de que há algum nível de hipoglicemia. É mais saudável oferecer comida do que dar glicose na veia", acrescenta.
A exceção ocorre no caso de uma cesariana agendada. A cirurgia requer oito horas de jejum para alimentos sólidos e seis horas para líquidos.
"Se o parto for normal, mas houver suspeita de que a mulher não vai ter dilatação, também é melhor evitar a alimentação", diz a ginecologista Márcia da Costa, coordenadora médica da maternidade do Hospital São Luiz -unidade Itaim.

Experiência
A fisioterapeuta Luciana Morando, 27, já sabia que poderia se alimentar durante as contrações, caso sentisse fome.
Foi internada às 11h, e seu filho, Guilherme Mendes Morando, nasceu depois das 20h, tempo suficiente para ela almoçar e lanchar. "Achei importante comer. Parto é trabalho mesmo. Tive mais energia para o momento da expulsão."
Os alimentos devem ser leves como grelhados, purê, arroz e vegetais, para não piorar um eventual mal-estar causado pela dor, segundo a ginecologista Márcia da Costa. "Se ela estiver indisposta, pode tomar sopa. Vai do desejo da paciente." Se ela estiver sem apetite, o médico pode manter os níveis de glicemia com soro.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd2004201004.htm

sábado, 17 de abril de 2010

Obrigada pelas visitas!!!

É com muita alegria que venho agradecer a visita de vocês:

O Apoio Materno já conta com mais de 1.000 clicks desde a primeira publicação em novembro de 2009. Gostaria de poder conhecer mais os nossos visitantes, saber a opinião sobre os artigos postados e receber sugestões para novas pautas.

Portanto, escrevam para o e-mail (apoiomaterno@gmail.com), entrem no orkut (Apoio Materno) ou deixem seus recados nos comentários. Será um prazer compartilhar experiências com vocês!!!

Beijos,

com carinho.

A natureza do sono do bebê

Olá,

Vamos mudar um pouco de assunto, passando do parto para o bebê. Mais especificamente sobre o sono, questão que traz muitas dúvidas e até mesmo insônia nos pais.

Li o artigo abaixo da Dra. Andréia Mortensen, pesquisadora em neurociências e residente nos Estados Unidos, no Guia do Bebê (www.guiadobebe.uol.com.br). Logo entrei em contato com a autora para pedir autorização de publicação e conversamos um pouco sobre como orientamos as mães e pais sobre o sono dos filhos. Pensamos da mesma forma e gostaria de compartilhar com vocês o material porque está bem explicado em termos científicos. Ou seja, pode dar carinho, pode deixar dormir juntinho que, ao contrário do que se fala no senso comum, não vai deixar os bebês manhosos e sim crianças mais seguras e afetivas.

Um beijo grande e bons sonhos!

Dra. Andréia Mortensen

A natureza do sono do bebê

Após a leitura do artigo "O mau sono do filho pode ser culpa dos pais", publicado no site Guia do bebê em 03/03/2010, gostaria de fazer alguns comentários.

O artigo ressaltou que a raiz de muitos problemas de sono estaria no fato de os pais auxiliarem seus bebês a adormecerem e concluiu que eles deveriam ser treinados a fazê-lo sozinhos.

Tenho algumas críticas a esse raciocínio:

PRIMEIRO, é importante entender que essa inabilidade do bebê de adormecer sozinho, sem ajuda, é de sua natureza. Antes de 2 ou 3 anos não há maturidade neurológica para tal. Então, ao 'treinar' um bebê a adormecer sozinho estamos passando por cima de sua natureza do desenvolvimento, que acontece em fases, em um aprendizado longo e complexo. A matéria parte do princípio de que é preciso condicionar os bebês a não solicitarem aconchego à noite mesmo quando tivessem necessidade, como se uma exigência para um bom sono bom seria apressar a independência do bebê.

SEGUNDO, as funções do choro, do embalo e do apego devem ser levadas em consideração.

O choro - No início da vida, o choro tem um amplo espectro de funções: bebês choram por fome, necessidade de contato físico, frustração, outras necessidades físicas e emocionais. O choro de frustração não pode ser considerado falso por não apresentar uma razão física visível. Experimentos clássicos mostraram que simplesmente pegar o bebê no colo funciona perfeitamente como uma forma de parar o choro, ainda que eles estivessem famintos (1,2). O choro atendido pelos pais tem importância fundamental para a formação de vínculos e estabelecimento do laço afetivo familiar (3).

O embalo - O bebê precisa ter confiança máxima, conforto, segurança e outros sentimentos mais complexos em quem lhe está adormecendo, que levam ao relaxamento relaxamento físico e mental. A mãe acalenta o bebê com um embalo ritmado, lento, afagos leves e ao som de uma melodia delicada e sussurrante de sua voz, e com isso o bebê se entrega e adormece. Deve-se lembrar também que embalar o bebê lhe confere estímulos sensoriais necessários ao estabelecimento do tônus muscular.

O apego - O colo e o apego, em conjunto com o embalo e a amamentação, são fatores críticos para a continuação do desenvolvimento do bebê fora do útero materno. O bebê humano nasce em desamparo e dependência quase absoluta e necessita ser visto e ouvido por sua mãe ou por outra figura de apego primário, de quem procura e espera uma relação recíproca, na qual seus próprios sentimentos iniciais são retribuídos (4). O bebê 'come amor' como se fosse comida e também a sensação de estar rodeado, contido, visto e seguro (5).

Uma criança que se agarra a um adulto não está sendo mimada nem querendo chamar atenção, mas sim está tentando reduzir o seu alto grau de excitação física e seus elevados níveis de substâncias químicas estressantes, como o cortisol e, ao mesmo tempo, tenta ativar as compostos químicos cerebrais que produzem sentimentos de bem-estar, como a ocitocina. Sua mãe é sua 'base neuroquímica' infalível.

Obrigar a criança a ser independente antes de ela estar geneticamente madura para tal é uma provável causa do surgimento de um apego prolongado, enquanto que a criança que recebeu o cuidado amoroso protetor com sua dependência natural reconhecida estará apta a aperfeiçoar suas potencialidades primitivas de crescer, integrar-se, adaptar-se às exigências do ambiente, desenvolver outras relações interpessoais, habilidades sociais, de convivência e aceitação do outro e de preservar a vida.

TERCEIRO, técnicas conhecidas como 'choro controlado' e variações em que o choro do bebê é ignorado não oferecem garantias de noites de sono ininterruptas. Tal fato foi, inclusive, revelado em uma pesquisa recente na qual, apesar de 69% dos pais acreditarem que essa técnica funcionaria, somente 1/6 dos pais disseram que ela eliminou completamente os despertares noturnos. (6)

Ainda, pesquisas revelam que quando a criança cumpre um ano, as mães que haviam atendido rapidamente o seu choro, tinham filhos que choravam muito menos que aquelas que haviam optado por deixá-los chorar (7).

QUARTO, é mito que bebês que são treinados a dormir a noite toda nunca mais acordariam. O bebê muda constantemente conforme seu desenvolvimento e isso interfere em seu sono. Então, é falaciosa a prescrição de soluções eternas para que a criança dormir a noite toda, porque sempre que há mudanças em sua vida (como entrada em escolinha ou mudança de professora, um atrito com amigo na escola, mudança para nova casa, férias, doença, saltos de desenvolvimento e outros) há provavelmente uma causa emocional para a mudança no padrão de sono. Nesses casos, é hora de direcionar todas as atenções a seu filho para que se sinta emocionalmente seguro de as boas noites de sono voltarão.

QUINTO, a pesquisa citada (publicada originalmente em 2009 na revista "Child Development") tem falhas metodológicas e erros de abordagem que não foram citados. Somente 85 famílias foram entrevistadas e isso torna a amostragem não significativa. Além disso, o texto não deixa claro qual foi a porcentagem real de casais que se adequaram às conclusões do grupo (se a margem de diferença for muito baixa, o estudo deve ser refeito com grupo de amostragem mais amplo).

Os próprios autores concluem no final do artigo que, pelo fato de os dados serem baseados em amostras não-clínicas, todas as implicações clínicas devem ser melhor examinadas adiante, em condições clinicas. Os autores ainda discutem que os dados devem ser melhor explorados em outras culturas e em amostras com mais variados status socioeconômicos para testar sua valia em ambientes que tenham diferentes expectativas, filosofias e valores em se tratando de práticas de educação dos filhos em geral e do sono dos bebês em particular.

Portanto, a abordagem dos pesquisadores passou por uma linha de pensamento que não considera diferentes culturas, crenças e individualidades. Os pesquisadores concluem que todas essas são características limitam a generalização dos resultados. Ainda mais, as associações relatadas entre o sono e cognições maternas foram baseadas em percepções subjetivas e podem ter sido influenciadas pela variância do método compartilhado.

Esses aspectos não foram incluídos no artigo que, portanto, não relatou com acuidade o que foi descrito na pesquisa.

FINALMENTE, o artigo publicado continua a oferecer problemas na parte 'Avisos' de hábitos possivelmente perniciosos ao sono.

Alimentá-lo fora do horário? Não é possível, posto que o bebê pequeno precisa mamar em livre demanda para garantir que tenha todas suas necessidades de nutrição e também de sucção não nutritiva saciados. Não há conselho mais prejudicial para o estabelecimento e continuidade da amamentação e, consequentemente, para a saúde dos bebês, do que amamentar com horários predeterminados.

O artigo condena que o bebê durma com seus pais. As conclusões do artigo não consideram bases antropológicas, culturais e tampouco fisiológicas.

O co-leito ou cama compartilhada é algo praticado desde os primórdios da raça humana. A necessidade do bebê humano de estar em contato físico com a mãe vem dos tempos em que o ambiente era perigoso e a sobrevivência dependia de contato direto com sua mãe. Somos parte dessa descendência. Além disso, a cama compartilhada é comprovadamente de auxílio para estabelecimento da amamentação e tem efeitos positivos no estabelecimento de ritmos respiratórios, na regulação de padrões de sono, da taxa metabólica, de níveis hormonais, da produção enzimática (ajudando na habilidade do bebê de lutar contra doenças), na taxa de batimentos cardíacos e no sistema imune (8, 9, 10). Pode também ajudar a atender necessidades emocionais do bebê e da criança mais facilmente, levando em consideração os picos de crescimento, a crise de ansiedade de separação que se inicia por volta dos 8 meses e outras fases que vão além do primeiro e segundo ano de vida, nas quais o contato íntimo com a mãe faz toda a diferença.

Portanto, ter um conceito previamente fechado, contrário a um arranjo de sono, pode dificultar a família a lidar com as necessidades que o bebê e a criança manifestem.

ALGUMAS RECOMENDAÇÕES QUE EU DARIA AOS PAIS SERIAM:

- Investigue em que lugar o bebê dorme melhor: na mesma cama com os pais, no berço em outro quarto, no berço no mesmo quarto porém distante da cama do casal, no berço no mesmo quarto junto à cama? E onde você dorme melhor? Finalmente, onde você gostaria que seu bebê dormisse? A gama de variações possíveis é grande, pode-se tentar alguns dos arranjos até descobrir como toda a família dorme melhor.

- Alterne maneiras de auxiliar o bebê a adormecer, nem sempre mamando (a não ser nas primeiras semanas quando é impossível manter um bebê acordado após as mamadas), nem sempre embalando, às vezes peça para papai entrar na jogada! Ao aprender que pode adormecer de várias formas, é menos provável que o bebê faça associações fortes de sono que podem levá-lo a requerê-las no meio da noite.

- Reconheça os sinais de sono do bebê: esfregar olhos, bocejar, diminuir atividades, ficar irritado, olhar parado, chorar, em alguns casos, gritar. Crie rotinas de acordo com o cansaço e a necessidade de sono da criança (que vai mudando conforme a maturidade), ou seja, uma sequência simples de eventos que ajude a criança a identificar que a hora do sono está por vir.

- As sonecas são importantíssimas para o desenvolvimento do bebê e para o sono noturno. Ao contrário do que se pode pensar, um bebê exausto luta contra o sono e tem dificuldades de permanecer adormecido. Para serem restauradoras, as sonecas diurnas devem durar pelo menos 1 hora, em média, para bebês maiores de 4 meses. Se o bebê não dorme espontaneamente esse tempo e acorda aborrecido, precisa de ajuda para prolongar as sonecas. Você pode usar um sling e deixar o bebê dormir nele. Se ele dorme em berço ou cama, preste atenção: quando acordar, tente colocá-lo para dormir novamente o mais rápido possível. Às vezes, ficar por perto para intervir antes de o bebê acordar completamente é aconselhável. Esse processo pode ser demorado, mas vale a pena, pois o bebê vai aprendendo a emendar ciclos de sono e tirar sonecas mais longas, que são importantes para um bom sono noturno também.

Dra. Andréia C. K. Mortensen



Referências

1- Wolff, P.H. 1987. The development of behavioral states and the expression of emotion in early infancy: New proposals for investigation. Chicago: University of Chicago Press. (1987).
2- Our Babies, Ourselves. How biology and Culture shape the way we parent. Meredith F. Small. Anchor Books. (1998).
3- Tocar: o Significado Humano da Pele. Ashley Montagu. Ed. Summus. (1988).
4- Bowlby, J. (1969,1982) Attachment [Vol. 1 of Attachment and Loss]. London: Hogarth Press; New York, Basic Books; Harmondsworth, UK: Penguin (1971).
5- Babies and Their Mothers : D.W. Winnicott. Merloyd Lawrence. ( 1996).
6- Lynn Loutzenhiser, Regina Leader-Post. Have you been awake all night, trying desperately to put your child back to sleep, or does your little one sleep like a baby? The study is being done in collaboration with a contributing editor to Today's Parent magazine. The survey can be found at http://uregina.ca/~loutzlyn/Research.html. (2009).
7- Margot Sunderland, The science of parenting. DK Publishing Inc. (2006).
8-J. McKenna et al., Bedsharing Promotes Breastfeeding, Pediatrics 100, no. 2: 214-219. (1997).
9- J. McKenna et al., "Sleep and Arousal Patterns of Co-Sleeping Human Mother-Infant Pairs: A Preliminary Physiological Study with Implications for the Study of the Sudden Infant Death Syndrome (SIDS)," American Journal of Physical Anthropology 82, no. 3, 331-347 (1990).
10- A Reasonable Sleep. Evolution suggests that if we sleep with our babies, we might help some of them escape sudden infant death syndrome. By Meredith F. Small DISCOVER 13:4. Medicine. (1992).

Esta página foi publicada em: 18/03/2010.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Mais sobre Michel Odent

Olá ,

Como havia prometido, hoje vou colocar algumas ideias do obstetra Michel Odent sobre a fisiologia do parto.
Ele enfatizou muito sobre as formas de ajudar uma mulher no trabalho de parto e como atrapalhar também (às vezes sem querer a gente pode estar sendo mais inconveniente do que imagina!).

Para começar, é interessante entender que nesses momentos de nascimento a mulher precisa se desconectar da função intelectual, ou seja, deixar parte do seu cérebro (neocórtex) quietinho. Hormônios são liberados e ela vai utilizando partes cerebrais mais arcaicas (pituitária e hipotálamo). Seu comportamento pode ficar diferente, ou como Odent falou, "inaceitável". Gritar, ser indelicada, brigar, tudo isso é sinal de que ela está se liberando da parte intelectualizada e entrando mais profundamente no trabalho de parto, com seus próprios recursos.

O que atrapalha (e estimula a parte intelectual):

1- falar com a mulher: mesmo que seja para dizer como está a dilatação ou fazer alguma pergunta. Qualquer conversa nesse momento ativa os pensamentos e a tiram do estado primitivo;

2- luz: com o escuro um hormônio importante é liberado (melatonina) que ajuda a diminuir a atividade intelectual do neocórtex;

3- ser observada e ter sensação de perigo: pessoas que estejam tensas, filmagens,etc podem atrapalhar. O ideal seria estar apenas com a parteira (segundo o próprio obstetra) e alguém que não a faça se sentir julgada e observada, alguém como a mãe ou que passe esta sensação.

4- sentir fome: aumenta a adrenalina. Quando a mulher se alimenta abaixa a atividade do neocórtex, ou seja, dá um soninho e tranquiliza.

Então, já podemos ter algumas ideias de como ajudar uma mulher no seu trabalho de parto ou, pelo menos, não atrapalhar tanto!

Quem quiser pode mandar suas observações, experiências sobre o assunto acima. Seria ótimo trocar informações com vocês.

Beijos

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um grande encontro: Michel Odent em Curitiba


A assistente social Talita em pé, Michel Odent e eu ao lado.

Olá,

Ontem estive em Curitiba participando de um workshop com o obstetra francês Michel Odent. Ele é um dos pioneiros na humanização do nascimento, trazendo inovações como a banheira e quartos que lembram o ambiente familiar. Ele que é originalmente um cirurgião geral, tornou-se parteiro domiciliar e defensor da ideia que as intervenções atrapalham o processo do nascimento.

O encontro foi em tudo muito significativo, conheci profissionais de vários lugares, muita gente de SC. Todos famintos de apoio e realimentação nas suas práticas a favor da humanização do nascimento. O casal Luciana e Mário, donos do Espaço Aobä em Curitiba, nos receberam com muito carinho. Ela sempre carregando seu bebê de 3 meses no sling, me deu saudades dos meus "bebês", agora já bem grandinhos. Também tive a oportunidade de conversar com a psicóloga e doula Talia, que foi a intérprete (incansável). Ela também é a tradutora de um dos livros de Odent e trocar experiências com ela foi muito estimulante. Fui com um grupo da Rehuna de SC - Izabel, Viviane,Andrezza e Talita - que está envolvido com o projeto MANA (parceria HU Fpolis , Rehuna e FNS), que desenvolve atividades com gestantes e rede de apoio em duas comunidades de Florianópolis. Voltei mais animada e com muitas ideias.

Em breve vou trazer alguns tópicos abordados pelo obstetra. Vale a pena conhecer seu trabalho e nos fazer repensar sobre nossas escolhas,sejam elas quais forem. Um aspecto que me chamou muito a atenção é a forma de Odent aborda a humanização. Ele não procura fazer um veu de romance nas suas explicações, nem convercer ninguém. As informações que traz são científicas, produto de muitas pesquisas que mostram a fisiologia do processo de parto. Nos ensinou sobre os hormônios e como são liberados ou inibidos, conforme o ambiente e as atitudes das pessoas que estão acompanhando a mulher no trabalho de parto. Em resumo, nos mostra a capacidade da mulher e um retorno da feminilização do parto.



Enquanto a próxima postagem não vem, algumas referências de livros:

- O renascimento do parto
- A cientificação do amor
- Água e sexualidade
- Gênese do homem ecológico

Boa leitura!!!

Beijos.